Ansiedade: sintomas físicos e psicológicos

Saiba reconhecer os sintomas de ansiedade, diagnóstico e tratamentos. Ficar a noite rolando na cama sem conseguir dormir ou sentir que o coração vai sair pela boca são alguns sinais. Conheça os outros sintomas psicológicos e físicos

Todo mundo já teve essa sensação de que algo ruim pode acontecer, muitas vezes acompanhada por “batedeira no peito”, suor ou “embrulho no estômago”. Os sintomas da ansiedade são similares ao medo, estado que possui uma função importantíssima para a sobrevivência e adaptação ao ambiente. É o que nos permite lutar ou fugir, por exemplo, diante de alguém que não respeita a lei ou de um motorista que não viu o sinal ficar vermelho.

Além de motivos concretos para se preocupar, como assaltos, trânsito caótico, desemprego e doenças, cada indivíduo tem suas ameaças pessoais, ou “encanações”, que podem até não fazer muito sentido quando analisadas à luz da razão: se o filho não come verdura, não significa que vai adoecer. Se o marido chega tarde, não significa que tem uma amante. Algumas pessoas ainda chegam a passar mal, ou reagem de forma “desadaptativa”, a situações ou objetos que os outros consideram comuns ou até divertidos, como shoppings lotados, eventos sociais, aviões ou pontes.

Prevalência
O Brasil ganhou o preocupante título de campeão de ansiedade no mais recente relatório sobre o tema publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS): 9,3% da população sofre com o problema de acordo com o documento, valor que é o triplo da média mundial, e supera de longe os Estados Unidos (6,3%). Assim como em outros continentes, as mulheres são as mais afetadas nas Américas: 7,7% sofrem de ansiedade, contra 3,6% dos homens.

Quando se considera o risco pessoal de sofrer com o problema, a proporção é mais alta: “Algo como 23% da população apresenta um transtorno de ansiedade ao longo da vida”, afirma Marcio Bernik, coordenador do programa de ansiedade (Amban) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC/FMUSP). “Desses transtornos, os mais frequentes são as fobias, mais particularmente as específicas, que ocorrem muitas vezes na infância, como de insetos, altura e outras situações”, descreve. Em segundo lugar aparece a ansiedade (ou fobia) social, com quase 10%. Os transtornos de ansiedade generalizada (TAG) e de pânico têm prevalências menores.

Quais os sintomas da ansiedade?
As manifestações envolvem desde sensações subjetivas de medo e apreensão, além de pensamentos catastróficos e sintomas físicos. O corpo todo pode ser afetado pela liberação de substâncias como a noradrenalina e o cortisol, que ativam a atenção, aumentam a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos para preparar o organismo para reagir. Sem perceber, a pessoa inala mais ar do que precisa (hiperventilação), o que piora tudo: “Diminui muito o nível de gás carbônico no sangue, acionando receptores que ficam nas carótidas e que mandam sinais equivocados ao cérebro”, relata Fernanda Sassi, médica do ambulatório de transtorno de personalidade e do impulso do IPQ – HC/FMUSP.

Sintomas psicológicos:
Apreensão
Medo
Angústia
Inquietação
Insônia
Dificuldade de concentração
Incapacidade de relaxar
Sensação de estar “no limite”
Preocupações com desgraças futuras
Pensamentos catastróficos, de ruína ou adoecimento

Sintomas físicos da ansiedade:
Sudorese
Falta de ar
Hiperventilação
Boca seca
Formigamento
Náusea
“Borboletas” no estômago
Ondas de calor
Calafrios
Tremores
Tensão muscular
Dor no peito
Taquicardia (coração acelerado)
Sensação de desmaio
Tonturas
Urgência para ir ao banheiro
Diferentes transtornos de ansiedade

Ansiedade generalizada: preocupação intrusiva, quase que diária, relacionada a eventos corriqueiros. A ansiedade infantil pode estar ligada à performance na escola, ou ao medo de terremotos, guerras ou fantasmas, enquanto adultos tendem a se preocupar mais com trabalho, dinheiro, responsabilidades, atrasos e doenças. Dores musculares, cefaleias e problemas gastrointestinais são consequências comuns.

Fobia social: medo ou ansiedade paralisante quando a pessoa é exposta em um ambiente social, ou deve fazer algo em público, como apresentar um trabalho, assinar um cheque ou sair com um pretendente. É o que as pessoas chamam de timidez patológica.

Fobias especificas: pode ser definida como um medo irracional e exagerado de determinados objetos, seres ou personagens, (como aranhas, baratas, agulhas, palhaços etc), ou de situações (como lugares altos, avião, multidões etc). O paciente chega a evitar até fotos ou, no caso das crianças, brinquedos que representem esses gatilhos.

Pânico: a pessoa experimenta períodos de retorno à rotina e “normalidade”, mas, de repente, sem motivo aparente, tem uma crise que dura alguns minutos e tem a sensação de que vai morrer, enlouquecer ou perder o controle. Dor no peito, falta de ar, taquicardia, formigamento e sensação de desmaio são alguns sintomas que costumam acompanhar os ataques.

Agorafobia: caracteriza-se por medo de aglomerações ou de situações onde conseguir socorro seria muito difícil, por exemplo em túneis, elevadores ou num show lotado. A pessoa passa a restringir sua vida para evitar situações que despertem esse medo, que, ao ser deflagrado, com frequência termina em uma crise de pânico.

Transtorno obsessivo compulsivo: doença na qual estão presentes primordialmente dois sintomas – os pensamentos intrusivos e os rituais para amenizá-los, que podem ser de limpeza (lavar as mãos o tempo todo), organização (arrumar quadros, não pisar em linhas), verificação (checar se trancou a porta várias vezes), repetir palavras ou fazer contas mentalmente, para citar apenas alguns exemplos. Se a pessoa não faz aquilo, sente que algo de muito ruim vai acontecer.

Transtorno de estresse pós-traumático: desenvolve-se após uma experiência traumática (como assalto, guerra, acidente de carro, sequestro etc) em que a vida da pessoa ou de outros fica ameaçada. Mesmo depois de dias, meses ou anos, a pessoa revive o episódio e sente angústia, ansiedade e sintomas físicos, como se estivesse de novo no momento original. Geralmente a crise tem um fator desencadeante que remete a pessoa à situação original de estresse.

Crise de ansiedade e de pânico são a mesma coisa?
São praticamente sinônimos, e se referem aos sintomas agudos como taquicardia, suor, falta de ar, formigamento, medo de perder o controle, enlouquecer ou morrer. Mas o transtorno de pânico é uma doença com características específicas: “Os ataques de pânico precisam ocorrer por pelo menos um mês, e, além dos ataques recorrentes e inesperados, há preocupações persistentes com novos ataques ou aquilo que eles possam causar, e comportamentos para evitá-los”, responde o psiquiatra e psicanalista Luiz Scocca.

Fatores de risco da ansiedade
Os transtornos de ansiedade envolvem sempre uma predisposição biológica, psicológica e a exposição a fatores estressores. Assim, indivíduos de famílias ansiosas têm maior chance de desenvolver os transtornos, mas um ambiente conturbado, com dificuldades econômicas, ou experiências traumáticas, como abusos ou perdas, também contribuem para o aparecimento do quadro. A prevalência também é maior em determinados grupos, como bancários, alunos de doutorado, profissionais que trabalham em emergências e assim por diante. A internet também pode ter sua parcela de culpa: “Antigamente, você sofria com aqueles acidentes que aconteciam perto de você. Hoje você pode sofrer com qualquer ato de violência cometido em qualquer país do mundo”, avalia Bernik.

Relação com depressão ou uso de substâncias
A depressão pode surgir como consequência de longos períodos de ansiedade ou, ainda, os transtornos podem coexistir. Também pode surgir pelo abuso de álcool e drogas, inclusive benzodiazepínicos. A bebida até alivia os sintomas, mas com o tempo é necessário aumentar a dose para ter o mesmo efeito, e a abstinência gera uma ansiedade maior ainda. O mesmo acontece na falta do cigarro e dos sedativos, quando esses são usados sem orientação adequada. Drogas como a maconha e a cocaína também podem provocar quadros agudos de ansiedade, que se parecem com crises de pânico.

E quem é ansioso por natureza?
Traços como esquiva, ou mesmo de busca por novidade ou dependência de gratificação podem, sim, fazer parte da personalidade da pessoa. “Algumas variações extremas de traços componentes da personalidade podem fazer o indivíduo sofrer, ou sofrer as pessoas que o cercam: temos aí os transtornos de personalidade. Alguns deles guardam semelhanças com quadros ansiosos, entretanto não são graves quanto um transtorno ansioso”, esclarece Sassi. Alguns exemplos são o transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva (pessoas rígidas, perfeccionistas e organizadas ao extremo, mas diferentes de quem sofre de TOC), ou a personalidade evitativa (pessoas que temem críticas e rejeição, por isso evitam situações em que esse risco existe, quadro que pode evoluir para uma fobia social). Mas a especialista lembra que a personalidade não é estática. Assim como uma pessoa pode sofrer um trauma e, por isso, desenvolver ansiedade, uma pessoa “ansiosa por natureza” pode mudar. É por isso que é tão importante buscar tratamento.

Tratamento da ansiedade e diagnóstico
O diagnóstico da ansiedade é clínico, ou seja, baseado na análise dos sintomas. Não há exames que confirmem o transtorno, mas, como muitos pacientes têm sintomas físicos, como taquicardia e falta de ar, um médico pode solicitar alguns testes para descartar outras doenças. Certas doenças, como hipertireoidismo, ou uso de certos medicamentos podem provocar ansiedade.

Veja, a seguir, alguns dos principais tratamentos para ansiedade, segundo estudos e opiniões de especialistas:

Psicoterapia: as terapias da fala, em geral, ajudam os pacientes a identificar os fatores que deflagram a ansiedade, como falsas crenças, e a encontrar formas mais saudáveis de lidar com os sintomas e as dificuldades que o transtorno cria. A psicanálise e as terapias psicodinâmicas podem ser úteis nesse aspecto, mas a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que tem um caráter mais prático, é a que tem demonstrado maior eficácia segundo evidências científicas.

No caso das fobias, por exemplo, a estratégia envolve expor o paciente de forma gradativa às situações que deflagram o medo, até que ele desenvolva uma tolerância. Para quem fica ansioso antes de viajar de avião, já existe até um tratamento com uso de realidade virtual para simular as etapas do voo, baseado no princípio da exposição. Outra vertente que tem trazido resultados, de acordo com estudos, são as terapias baseadas em mindfulness (meditação de atenção plena), que unem fundamentos dessa prática e da TCC.

Terapias complementares: práticas meditativas, como mindfulness e meditação transcedental, têm despertado atenção de pesquisadores e hoje existem evidências científicas de seus benefícios. O princípio é se concentrar na respiração ou em alguma palavra, no momento presente ou nas sensações corporais, sem brigar ou se apegar às ideias que vêm à mente. Esse treino, com o tempo, promove um descentramento: “Nessa habilidade, os pensamentos e imagens mentais não são considerados como se fossem ‘fatos’ ou ‘realidades’, mas sim ‘eventos mentais’, podendo ter valor ou não”, ensina o médico e especialista em mindfulness Marcelo Demarzo, blogueiro do UOL.

Exercícios de respiração diafragmática, como os da ioga, também são considerados úteis para quem sofre de pânico. Além disso, técnicas de relaxamento, neurofeedback, biofeedback, alongamentos, massagens, musicoterapia, acupuntura, banhos quentes e ervas como camomila, passiflora e valeriana…tudo isso pode ajudar no controle dos sintomas e aumentar o sucesso dos tratamento convencionais.

Medicamentos: os fármacos mais utilizados para os transtornos de ansiedade são os antidepressivos, como inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ex: fluoxetina, sertralina, paroxetina etc) e tricíclicos (ex: clomipramina), entre outros. Os principais efeitos colaterais são problemas sexuais e ganho de peso. Ansiolíticos como os benzodiazepínicos (diazepam, clonazepam, lorazepam, lexotan etc), que agem num neurotransmissor chamado Gaba, podem ser indicados no início do tratamento ou durante as crises. A prescrição dessas drogas deve ser feita com cuidado porque há risco de prejuízos psicomotores, problemas de memória e dependência.

Alguns médicos também podem prescrever betabloqueadores (como propanolol e atenolol) para reduzir sintomas como taquicardia e tremedeira em situações específicas, como apresentações em público. Alguns anticonvulsivantes (como a pregabalina) ou neurolépticos também podem ser prescritos em casos específicos, dependendo dos sintomas e de condições associadas.

Hábitos saudáveis: as atividades físicas são de extrema importância para quem sofre de ansiedade, pois ajudam o corpo a liberar substâncias que promovem bem-estar, além de distrair a mente e melhorar o sono. Vale lembrar que pessoas que sofrem de pânico tendem a evitar atividades que aceleram o coração, o que pode prejudicar muito o condicionamento e a saúde delas. Atividades ou jogos que exigem concentração também podem ter um um efeito de “treino mental” contra a ansiedade. Outras, como futebol ou dança, têm a vantagem de estimular a socialização.

As recomendações gerais dos especialistas incluem: ter uma dieta saudável, rica em vitaminas e minerais; aprender a equilibrar trabalho e descanso; controlar a exposição aos eletrônicos, principalmente à noite; evitar o excesso de álcool, café, cigarro e outros estimulantes; e levar o sono a sério (dormir mal também colabora para o excesso de hormônios do estresse, o que só agrava o quadro de ansiedade). Todos esses bons hábitos também funcionam como prevenção para os transtornos ansiosos.

Como ajudar quem tem ansiedade ou está tendo uma crise de pânico?
Incentive a pessoa a procurar um psicólogo ou psiquiatra com experiência em ansiedade, e a ter hábitos mais saudáveis, como fazer exercícios, cuidar do sono e evitar estimulantes. Coloque-se à disposição para ouvir os medos e preocupações do ansioso, que podem parecer exagerados ou estranhos para você, mas causam sofrimento real para quem tem o transtorno. Argumentos racionais, como estatísticas que mostram como viajar de avião é mais seguro que de carro, por exemplo, podem até trazer algum consolo, mas não curam a fobia.

Se você presenciar alguém tendo uma crise de pânico, a orientação é não deixar a pessoa sozinha e ajudá-la a respirar fundo e devagar. O ataque melhora em pouco tempo. Se a pessoa estiver dirigindo, deve procurar um lugar seguro para encostar o carro. Muita gente demora para receber o diagnóstico e, antes disso, vai parar diversas vezes no pronto-socorro porque tem certeza de que vai morrer. Na dúvida, ou na presença de outras doenças, é melhor pecar pelo excesso e levar a pessoa ao hospital. Mas, com o tempo e o tratamento, o próprio paciente aprende a reconhecer uma crise de ansiedade.

Fontes: UOL, Cristiano Nabuco (psicólogo e blogueiro do UOL); Erlei Sassi Jr. (psiquiatra, coordenador do ambulatório integrado de transtornos de personalidade e do impulso do IPQ – HC/FMUSP); Fernanda Sassi (médica coordenadora do ensino e assistência do ambulatório integrado de transtorno de personalidade e do impulso do IPQ – HC/FMUSP); Luiz Scocca (psiquiatra e psicanalista; integrante das associações brasileira e americana de psiquiatria); Marcelo Demarzo (médico especialista em mindfulness e blogueiro do UOL); Marcio Bernik (coordenador do Amban – IPQ-HC/FMUSP); Cochrane; Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH); Organização Mundial da Saúde (OMS).