“Aprender a olhar e ouvir o outro só pode acontecer quando o indivíduo
cultiva o hábito de aprender a olhar e ouvir a si mesmo”- Jean Vaysse
Na era da comunicação, onde a tecnologia oferece ao homem inúmeras possibilidades de se comunicar eficientemente, através de aparelhos que reduzem distâncias físicas, levando o planeta terra a ficar informado do que acontece em quase todos os espaços do mundo, constatamos que é raro o exercício consciente da comunicação interpessoal.
O aperfeiçoamento da comunicação, com todo o avanço, não foi capaz de proporcionar ao homem as condições necessárias para que ele exercite, com consciência e presença no aqui-agora, o aprendizado do autoconhecimento e da autocomunicação, da comunicação com o seu semelhante e com tudo que o cerca.
Sabemos que a comunicação, no seu sentido específico de “comunhão”, de “tornar-se comum com o outro”, raramente acontece em todo o nosso planeta. Constatamos que o homem em sua maioria esmagadora, não sabe ainda se comunicar eficientemente com ele mesmo e, consequentemente com quem está à sua volta.
Não sabe se comunicar com ele mesmo porque não se autoconhece. Não se autoconhece porque não sabe se comunicar com ele mesmo e com o outro. Não sabe se comunicar com ele mesmo porque não se aceita como ele é no processo de ir sendo. Não se autoconhece “porque não se vê no outro”, porque se sente separado de tudo e de todos, até dele mesmo. Não conhece a realidade consciente do auto-respeito alheio porque não conhece seu próprio potencial.
Verificamos que esse total desconhecimento de si mesmo é também fruto de condicionamento social e cultural (formação, modelos mentais, paradigmas) que impôs e impõe ao homem a inércia existencial. Essa inércia lhe tira as condições de praticar a coragem de olhar para si mesmo como ele é no seu mutável processo de ir sendo. E muitas vezes ele gostaria de ser a partir de suas auto-imagens idealizadas e das imagens construídas de forma alheia.
Por não saber se comunicar de forma consciente, o homem vive de maneira parecida com um personagem que vive fora do mundo, que se nega a crescer e está sempre em busca de novas sensações para passar o tempo. Sem o exercício consciente da autocomunicação e da comunicação com o outro, fica difícil ao homem sair dos jogos da dualidade e crescer como ser único e responsável pelas próprias escolhas.
Diante da compreensão deste estado de incomunicação de nós, e do preço que estamos pagando por mantê-lo, reconhecemos ser urgente o aprendizado e a prática do que denominamos de autoconhecimento.
E o que significa autoconhecimento?
Chama-se de autoconhecimento o processo que vai da tomada de consciência do indivíduo em relação ao seu desconhecimento de si mesmo, passa pelo movimento interminável do enxergar a si próprio e da auto-educação e auto-aceitação, e chega até o momento da sua morte física. Em outras palavras, o autoconhecimento é um processo interminável que se inicia com a tomada de consciência do indivíduo, de que ele não vê a si, não se enxerga a si porque foi formado (condicionado) a não se autoconhecer e a viver na periferia de si mesmo.
Após esta tomada de consciência do desconhecimento de si mesmo o indivíduo compreende que, através do exercício do autoconhecimento, ele pode penetrar na jornada do conhecer-se, aprendendo em primeiro plano:
1. A olhar para si mesmo e a se ver como ele é, como ele se apresenta ou como ele se manifesta.
2. Ouvir a si mesmo, a perceber a si mesmo tal como ele acontece em todas as suas circunstâncias de vida, ouvindo seu corpo, suas sensações, suas emoções, pensamentos, sua presença, sua saudade de si mesmo sem preconceitos, sem adjetivos, sem dogmas.
3. Tocar a si mesmo reconhecendo a sua textura e sua vocação de ser.
4. Não mais temer a si mesmo.
5. Confiar e valorizar a si mesmo assumindo o compromisso de ser autêntico consigo.
Em um segundo plano, e, na maioria das vezes, de forma simultânea ao primeiro plano, ele compreende que pode aprender a:
1. Ver o outro como ele se apresenta, sem expectativa, sem querer que o outro atenda àquilo que as suas imagens esperam dele, sem querer que o outro seja o que ele não é.
2. Ouvir o outro e perceber o outro tal como ele acontece. Aprender a ouvir não só as palavras, mas a presença total do outro, ouvindo com os olhos, com o coração, com a totalidade da atenção do seu ser.
3. A tocar reverentemente o outro respeitando a sua vocação de ser.
4. A não mais temer o outro.
5. A confiar e valorizar o outro, assumindo que essa valorização e confiança refletem a sua confiança na potência criadora da humanidade da qual ele faz parte.
6. Falar respeitosamente com o outro através de palavras, gestos, olhar, silêncio e presença no aqui-agora.
A frase do Jean Vaysse se encaixa perfeitamente ao contexto “aprender a olhar e a ouvir o outro só pode acontecer quando o indivíduo cultiva o hábito de aprender a olhar e a ouvir a si mesmo”. Quem já iniciou a experiência de aprender a ver e a olhar-se, sabe que para se desempenhar tal empreendimento se faz necessário uma enorme disponibilidade interior para o acontecimento desse autoencontro.
Parte do texto A IMPORTÂNCIA DO AUTOCONHECIMENTO – VOCÊ JÁ ESTÁ NO CAMINHO? de Maria Lúcia Rocha Costa para o site Evolução Humana