Gastam-se milhões em academias para ter-se o corpo musculosamente definido. Outros tantos milhões em busca da melhoria dos aspectos estéticos. Botox, drenagens, peelings, plásticas das mais diversas. Muitas necessárias, algumas sem o menor sentido, sem, muitas vezes, perceber que o problema está sendo transferido do emocional para o físico.
Quantas frustrações de todas as ordens são tentadas compensar com a dita melhoria estética? Relacionamentos amorosos frustrantes, relações familiares complicadas, dificuldades de adaptação a sistemas, etc., são desviados focos. Não é trabalhada a gênese, e simplesmente tenta-se corrigir tudo isso com peitos maiores, nariz menor, boca mais carnuda, enfim, tudo o que o corpo aceita para que nos sintamos “melhores”.
Volto a afirmar, a maioria dos casos são bem indicados, quando o problema reside só na estética e com isso os resultados recompensam tanto o médico quanto o paciente. A colocação deste artigo é para os casos da ilusão que isto compensa aquilo. Falta de disposição para enfrentar seus próprios fantasmas e tentar fórmulas mágicas para solução de problemas emocionais. Quantos casos de hipotireoidismo, diabetes tipo II, colite, doenças de pele, hipertensão, asma, gastrite etc. vem de problemas de fundo emocional? Hoje trabalhamos com a medicina psicossomática, que é uma maneira de estabelecer uma relação de causa e efeito entre o que vai pela mente e pelo corpo. Quantas vezes faltou explicação para uma dor que apareceu do nada? Exames normais sem nenhuma causa orgânica.
O corpo é o professor do espírito já nos alertava Budha. “Doutor, toda vez que fico nervoso tenho enxaqueca”. E não percebeu ainda o remédio para isso? Quanta gente tomando remédio por conta de não querer, ou não ter consciência da necessidade de uma mudança comportamental.
Alguns dos pacientes que eu encaminhava a psicólogos, procuro tratar de maneira mais abrangente hoje em dia, respeitando, obviamente, os limites do bom senso e da boa prática. Tive que ampliar a formação com filosofia, programação neurolinguística, hipnose, para poder tratar o paciente de acordo com o conceito da organização mundial de saúde que diz “saúde é o bem estar físico, mental e emocional”. Todo médico que focar apenas no físico estará perdendo a oportunidade de oferecer algo mais ao seu paciente. Surpreendê-lo e encantá-lo.
A harmonia entre mente e corpo é defendida desde os primórdios da medicina. Hipócrates(400ª.C.) ligava problemas biliares á depressão, Galeno (129 a 216 d.C.) já dizia que a tristeza, raiva, medo, poderiam trazer consequências físicas. Heinroth, no seu livro “Desordens da Alma”, de 1818, defendia que as paixões sexuais, contribuíam para a manifestação da tuberculose, epilepsia e câncer. Freud nos fala sobre a influência da histeria nas manifestações somáticas. Hans Seyle, na era moderna, estabelece os efeitos do estresse sobre o corpo humano pela primeira vez.
Hoje, com o advento da neuroimagem podemos acompanhar o cérebro em plena atividade e entendendo melhor suas reações.
E o que fazer? Auto avaliar-se melhor. O corpo fala, saiba ouvi-lo. Trabalhe para uma evolução diária como pessoa. O sentido desta vida, parece estar ligado a sermos melhores a cada dia, o resto é consequência de muitas variantes. Profissão, sucesso, relacionamentos, enfim, tudo irá melhor se você simplesmente se preocupar a ser melhor a cada dia, como pessoa, no processo de compreensão de nosso compromisso aqui. Ninguém nos prometeu nada, não viemos com manual, temos que trocar o pneu com o carro andando, mas é assim que é. Quanto melhor nos compreendermos melhor compreenderemos os outros. Melhor lidarmos com adversidades e muito mais agradeceremos a saúde advinda da harmonia mente e corpo.
Dr. Edmilson Mario Fabbri – Revista Ciência e Fé – Ano 23 – nº 268 – Setembro de 2022