NOSSA SENHORA DA BOA VIDA

Deveríamos dedicar, em todos os dias de nossas vidas, minutos a essa padroeira, pedindo-lhe, principalmente, sabedoria para vivermos uma boa vida independentemente dos acasos da materialidade.

Deveríamos a ela pedir que nos desse a resiliência necessária para enfrentarmos as agruras da vida sem que isso nos abalasse tanto.

Certo é que estamos em uma etapa de desenvolvimento e crescimento como pessoas, sem ainda aquela devida “iluminação” própria dos avatares, mas nem por isso precisamos ficar tão reféns dos acontecimentos do dia a dia para orientarem nossos humores.

Desperdiçamos tempo demais com lamentações, choramingos e mimimis, devido a situações que não se concretizam, deixando-nos irremediavelmente frustrados! Com isso dedicamos muito pouco tempo à vida real. Aquela que, efetivamente, deve ser vivida. Aquela que aí está para nos apaixonarmos, cantarmos na chuva, lermos um bom livro, escutarmos uma boa música, visitarmos um amigo, rirmos à toa, assistirmos a um bom filme, deitarmos em uma rede, enfim saborearmos efetivamente essa delícia de vida com a qual o universo nos presenteou.

Guardamos nosso melhor vinho para bebermos em um dia especial com quem entende de vinho. Do nosso melhor perfume, poucas gotas vez ou outra. A calça de que mais gostamos é a que menos usamos, para poupá-la a fim de que dure bastante (?!). Aquela camisa cara comprada no crediário ainda está com a etiqueta da loja.

Chega de “algum dia” ou “um dia desses”. O tempo não para, não espera a melhor ocasião para passar, ele simplesmente passa, inexorável.

Olhe no espelho: está esperando o que para finalmente fazer aquela viagem tão planejada e nunca executada? Ora por falta de tempo, ora por falta de dinheiro, ora, ora, ora. Isso mesmo, comece a orar! Nossa Senhora da Boa Vida há de ouvi-lo e, um dia, descerá dos céus com seu manto alvo e cintilante, escoltada por anjos que a anunciarão em meio a sons de suas trombetas, e ela, ao olhar dentro dos seus olhos, perderá sua classe e elegância celestial e lhe dirá em alto e bom som: “Tá esperando o quê, mané???” Quem sabe aí você acorde e mude, parando de guardar tudo para um dia especial ou para um melhor momento, etc, etc…

Sabe qual será o dia especial se não ouvi-la? O dia da sua morte! Vestirão em você aquela calça que tanto adorava mas tinha dó de usar, junto com aquela camisa da qual ainda nem tirou a etiqueta, apesar de ser a sua preferida. Gotas do seu melhor perfume trarão uma doce fragrância no ar. Que tal? Será realmente uma data inesquecível. Ah, sem esquecer daquele vinho maravilhoso guardado a sete chaves na adega, que seu cunhado que não entende nada de vinhos tomará em sua homenagem. “Ele gostava tanto de vinho”, dirá.

Nesse dia sai Nossa Senhora da Boa Vida e entra em cena Nossa Senhora da Boa Morte. Opa, desculpe, não para você, pois só tem uma boa morte quem viveu uma boa vida.

Dr. Edmilson Fabbri
Para a Revista Ideias
(http://www.revistaideias.com.br) em MARÇO/2018

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