O Intruso

Aquela parecia uma noite como qualquer outra e não havia nada que indicasse o contrário.

Levantei na madrugada sem abrir os olhos já que a preguiça havia automatizado meus movimentos e segui na rotina do banheiro.

Mas não sei o que me fez despertar daquele transe habitual.

No instante em que entrei no banheiro fui invadido por uma estranha sensação que me fez abrir os olhos, vi de relance um sujeito a esgueirar-se rapidamente e desaparecer no escuro.

Parei assustado.
Era sonho?
Alucinação?
Real?

Com adrenalina à mil ainda tentava entender o que era tudo aquilo, meus olhos faiscavam e ardiam enquanto que minha mente buscava restabelecer controle e razão.

Era impossível alguém sair do banheiro sem me jogar no chão, mas o sujeito fugiu largando nas sombras do espelho minha própria imagem.

Percebi que ele zombava das minhas dúvidas e ridicularizava meus gestos.
Fazia de mim uma copia dele e vice versa. Escravos, um do querer do outro.

Eu me achava limitado e preso às rotinas, o sujeito escondido no espelho era mais miserável, pois estava condenado àquele espaço e à olhar-me nos olhos. Mesmo assim zombava em silêncio quando eu não o via.

Virei as costas e sai do banheiro.

Ele arriscou sair atrás.

Virei-me para o espelho e ele jogou-se na moldura disfarçando como se nada acontecesse.

Parei imóvel no escuro, ele não mexeu um dedinho e nem sequer piscou. Percebi que ficou intimidado e não tentaria seguir-me.

Ainda perturbado voltei para a cama sabendo que das sombras do espelho seu olhar em curvas já me via deitado.

Puxei o cobertor cobrindo a cabeça, enquanto uma pergunta muda penetrava meus ouvidos.

Qual é o espelho que me aprisiona?

José Luiz Nauiack – Abril de 2021
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