“Sei exatamente como me comportar e me relacionar, mas algumas vezes tem pessoas que me tiram do sério e acabo fazendo uma tremenda besteira, depois me arrependo, mais aí já é tarde.” Este é o tipo de situação muito comum apresentada em diversas situações e são raras as pessoas que não se surpreenderam e se arrependeram de seus próprios comportamentos. Também eu já me deparei várias vezes pensando assim, mas venho exercitando deixar-me influenciar cada vez menos com o comportamento do outro.
Iniciei tentando fazer uma analogia do meu humor com minha conta no banco. Imaginei que se alguém pedisse-me o cartão e a senha, mesmo para tirar apenas um extrato eu não emprestaria. Haveria riscos de saques, empréstimos e dívidas a serem carregadas por longos anos. Sei que sou capaz de proteger razoavelmente bem meus ativos financeiros, manter sigilo de meu saldo e lançamentos, pois fui aprendendo e desenvolvendo esta habilidade ao longo dos anos, bem como selecionar as pessoas que podem ter acesso às informações bancárias.
No entanto, descobri que não tratava meu estado emocional da mesma forma, pois permitia que qualquer um fizesse saques pesados em meu humor, abalavam-me comentários e insinuações, além de eu mesmo aplicar juros e correções que no fundo só aumentavam o estrago. Zerar o balanço no final do período exigia muito esforço e desgaste.
Ainda não sou mestre na bolsa de valores emocionais, mas venho tentando minimizar meus prejuízos, não sou imune à saques inesperados e quanto antes assimilo o golpe, também percebo que a correção e os juros aplicados acabam causando menor estrago. Meu humor ainda varia, mas cada vez é menos negativo.
Recentemente me deparei com um texto de John Powell no livro “Por que tenho medo de lhe dizer quem sou?” que igualmente ilustra esta forma de pensar e agir: “…Sydney Harris conta uma história em que acompanhava um amigo à banca de jornais. O amigo cumprimentou o jornaleiro amavelmente, mas como retorno recebeu um tratamento rude e grosseiro. Pegando o jornal que foi atirado em sua direção, o amigo de Harris sorriu polidamente e desejou um bom fim de semana ao jornaleiro. Quando os dois amigos desceram pela rua, o colunista perguntou:
“Ele sempre te trata com tanta grosseria?”
“Sim, infelizmente é sempre assim”.
“E você é sempre tão polido e amigável com ele?”
“Sim, sou”.
“Por que você é tão educado, já que ele é tão inamistoso com você?”
“Porque não quero que ele decida como eu devo agir”.