É triste não saber experimentar e aproveitar a solidão, veja o que escreveu Bruno Carrasco em seu livro “Existencialismo e Psicologia”:
“O sentimento de solidão não significa necessariamente estar só ou sem companhia. Podemos encontrar pessoas todos os dias, e mesmo assim sentimos a solidão.
A cada dia que passa nossas relações sociais se tornam mais enfraquecidas, encontramos pessoas mas nem sempre nos relacionamos com elas. Nos encontramos com pessoas a todo momento, mas quase não interagimos, trabalhamos com pessoas que somente falamos bom dia e boa tarde. No supermercado vemos o caixa somente como alguém que vai passar as compras e fazer a cobrança, ou quando vamos a um restaurante, o garçom somente anota pedidos e traz a refeição, e isso não é uma relação.
Quem utiliza redes sociais como o Facebook, possui mais de mil amigos, mas não se relaciona com quase nenhum deles, muitas vezes não há nada de significativo além de trocar curtidas e comentários triviais.
Apesar de estarmos em contato com pessoas a todo o tempo, nem sempre nos sentimos próximos delas. É justamente por viver esse modelo de vida que nos faz sentir solitários, porém isso nem sempre é ruim.
Estamos acostumados a ver a solidão como algo ruim e negativo, mas a solidão é também uma condição humana. Na realidade estamos sempre sós, mesmo na companhia de outras pessoas, estamos sempre em nossa companhia.
“Se você sente tédio quando está sozinho é porque está em péssima companhia.”
(Jean-Paul Sartre)
Cada pessoa experimenta de sua maneira a sensação de solidão, alguns se sentem bem com isso, outros se sentem apavorados e até desesperados.
Por mais que sejamos pessoas muito sociáveis, seja no grupo familiar, de amigos ou colegas, num momento ou outro teremos de encarar a solidão em nossa vida. O fato de estar com outras pessoas não exclui a nossa condição de também ser só.
O importante é compreender que a solidão não é uma doença ou um problema, pois faz parte de nossa vida. Em alguns momentos a percebemos de maneira mais intensa e não nos sentimos dispostos em lidar com ela, em outros momentos sentimos de maneira mais tranquila.
Nem sempre é fácil entrar em contato com a nossa solidão, pois trata-se de entrar em contato com nós mesmos. Essa experiência pode ser muito valiosa, é na solidão que percebemos nossas singularidades e liberdade. Experimentar a solidão pode nos possibilitar a ver nossa vida de maneira mais ampla, reavaliando nossas buscas e relações, revendo o que
realmente é importante para nós.
Podemos utilizar a solidão em nosso favor, aproveitando para olhar mais profundamente para nós mesmos, compreender a nossa história e o que para nós é significativo, encontrando e criando novos sentidos para nossa vida.
O confronto com a própria solidão pode nos ampliar alternativas existenciais diferentes e novas possibilidades de existir e se colocar no mundo. Com isso ampliamos nossa existência e nos colocamos abertos a novos caminhos, mais coerentes com nossas reais buscas e desejos.”
Então, na próxima vez que sentir-se só, mas não apenas sozinho, mas solitário mesmo, aproveite um pouco o momento e pense em si mesmo, sinta-se, valoriza-se. Aproveite para conhecer-se um pouco mais então, dificilmente haverá solidão que te pegue.”
Existencialismo e Psicologia - De Bruno Carrasco
