Nasci com uma coisa que me persegue, não consigo me desfazer é mais forte que eu: minha cabeça é uma bela contadora de histórias.
Tudo vira enredo. E aí eu viajo na maionese (dentro de mim e na rua) com as nossas voltinhas de carro.
Lembro como eu adorava ser carregada assim pelo meu pai e irmãos. O mundo parecia bem diferente de lá de cima. Tudo que eu via sempre da mesma forma, de lá, parecia completamente diferente. E era, igual mas diferente.
Nunca passou por um segundo sequer um cenário diferente de que ali eu estava bem firme. Mesmo sem nenhuma garantia. Agarrava forte nas mãos, no pescoço, nos cabelos (hoje sei como dói) e, as vezes, quando diziam “tá segurando firme aí?!”, em uma tentativa ousada de degustar o desafio, eu começava a soltar uma mão. Até soltar outra… “segura ai” e voltava rapidinho com aquele doce sabor de quem tocou o desconhecido estampado no sorriso misturado ao frio na barriga. Mantinha a calma.
Nessa época a gente se permite. Se entrega. Abre mão do controle. Abre espaço pra descoberta. Não deixa o que virá depois ocupar o espaço de agora, pois não faz sentido.
A gente sente. Não tenta fazer o medo ir embora, deixa ali, deixa a curiosidade ganhar mais força. Gritar mais alto. É uma delícia perder o controle.
Lembro que essa era uma das coisas mais gostosas da infância. Hoje, eu diria “pequenas coisas” e nessa época tudo era vivenciado sem régua, sem medida. Então, cada instante era infinito.
Vi essa cena e me lembrei como o vento tocava diferente ali em cima e como era bom escancarar o coração e aproveitar. Sem controle, sem medida.
O maior gostinho (agridooooce que só) que meu filho me fez redescobrir é como tudo fica mais digerível quando a gente aceita largar mão e mantém a calma pra perder o controle.
Entregues.
Tudo continua igual, mas diferente.
Sem nenhuma garantia, só a chance de sermos livres e sentir a vida de outra forma.
Mais infinita.
Texto de Isadora Ribeiro, em seu site www.nanossavida.com