UM OLHAR SOBRE A VIDA

O início desta reflexão traz trechos e parágrafos quase completos do livro “A biografia Humana” de Laura Gutman, revesti-o com algumas palavras minhas de forma a gerar o contesto para evitar ser necessário mergulhar no livro todo e só então compreender a profundidade dos pensamentos da autora.

No livro, Laura inverte o ponto de vista ao colocar o bebê como observador em sua chegada ao mundo. Imagina ser possível ver que é uma grande desilusão, pois à medida que o bebê cresce as coisas não melhoram. Ainda que ao crescer as ferramentas da sobrevivência sejam afiadas e refinadas.

É verdade que cada criança vai desenvolver recursos diferentes e para Laura todos compartilham a certeza de que o mundo é perigoso e a necessidade de estar sempre alerta. Assim todos estão convencidos a atacar primeiro, que há predadores em qualquer lugar e que a fome emocional não vai acabar. Algumas crianças aprendem a agredir quem quer que seja: mordem os peitos de suas mães, mordem outras crianças, cospem, batem e machucam. As crianças contam apenas com as experiências vividas, sentem necessidade de defende-se permanentemente das agressões externas. Toda criança usa estratégia própria. Algumas por exemplo, adoecem, desenvolvem alergias e tantas outras patologias crônicas, esquentam seus corpos simulando ou produzindo febre, pedem desesperadamente alguma carícia. Às vezes esta carícia chega, mas acaba assim que recuperam a
saúde. Os adultos examinam os corpos cansados das crianças, mas não veem seu verdadeiro desamparo ao constatar que eles próprios não estão dispostos a dar colo e permitir que a criança fique nele, abraçado eternamente.

Algumas crianças decidem não incomodar, com a secreta esperança de que, se elas não nunca ficarem bravas, serão finalmente reconhecidas e amadas por suas mães. Outras se enchem de comida, açúcar, televisão, games, barulho, gritaria, brinquedos ou estímulos auditivos e visuais com o objetivo inconsciente de não sentir a pontada da solidão. Há também as crianças que anestesiam diretamente todo o vestígio da dor. Tornam-se imunes ao contato. Deixam de sentir. Tecem uma couraça de ar ao seu redor a ponto de não tolerara a aproximação de pessoas. Podem crescer e desenvolverem-se afastadas das emoções e com diversas estratégias para sentirem-se seguras: Habitualmente refugiadas na mente. Transformam-se em jovens inteligentes, cínicos, velozes, irônicos com relação àqueles que os rodeiam, desapegados e críticos.

Mas não culpe as mães nem os pais, pois assim também eles, bem como as avós e avôs, e as avós e avôs das avós e dos avôs, que sucessivamente foram vítimas desta carência emocional.

Agora pare um pouco e pense, pois como disse Jung: “Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”. Então, se seu objetivo é conhecer a si mesmo, talvez o primeiro passo seja ao tentar imaginar o que aconteceu com você mesmo desde o momento em que saiu do ventre da mãe até o momento em que passou a ter consciência de si mesmo. Como você se construiu como ser humano? Como adulto? Quais são suas estratégias de sobrevivência? Grita? Chora? Fica doente? Briga? Luta? Fica calado?
Sobrecarrega-se de trabalho? Onde você mergulha e se refugia? Mas se o objetivo está na relação com o outro, vale refletir sobre os processos inconscientes a que ele foi submetido ainda criança e que transformaram-no neste ser que hoje se apresenta. Faça perguntas para si mesmo e tenha a compreensão como guia. Aja ao invés de reagir, pois a finitude um dia virá apresentar a conta da existência.

 

José Nauiack em Julho de 2018
Imagem: pixabay - outono-queda-baby-boy-criança-165184
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