Nasceu e cresceu em uma família católica brasileira da classe média. Típica do Brasil dos anos 60. Morava com os pais e avó materna junto de três irmãs mais velhas, que precisavam aprender as tarefas domésticas e trabalhos manuais, enquanto com seus irmãos brincava no quintal sem preocupações e obrigações.
Como o mais velho dos quatro irmãos, assumiu para si mesmo a responsabilidade de sempre apresentar as melhores soluções, ser o mais forte, o mais rápido, o mais inteligente e outorgava a si próprios tantas outras qualidades. Precisava ser o primeiro e superar os desafios e acreditava que matemática, ciências, lógica, física faziam parte de suas características mais marcantes.
Antes dos 20 anos tirou licença de piloto privado e no segundo grau formou-se técnico em mecânica industrial. Na universidade cursou licenciatura e bacharelado em matemática. Migrou para informática no final da década de 70. Dominava software e hardware de computadores de grande porte. Como herança dos tempos de criança não aceitava ser superado na solução de problemas, exigindo de si mesmo sempre ser melhor e mais rápido.
Casou no início dos anos 80 e antes do final da década já era pai de três meninas. Assim, realizava-se cada vez mais como indivíduo e como profissional. Na nova década foi chamado para trabalhar nos laboratórios do fabricante dos computadores. Percebe então brotar de uma parte desconhecida de si uma pergunta como vinda de uma criança: “Vô, quem foi você?”. E assim também, de forma inconsciente, cada vez mais rejeita a resposta de gastar a vida em prol de uma empresa.
Sem abandonar seu trabalho e suas habilidades, lentamente começou a experimenta-se fora do universo da lógica, dos cálculos, da mecânica e da física. Parecia precisar ser mais que os computadores. Aceitou o convite e foi chefe escoteiro por quase 20 anos, fez vários cursos, mas foi com as crianças que aprendeu a delegar, errar e deixar errar. Precisava reconhecer e valorizar mais no outro o esforço do que as respostas.
Quando o século XXI chegou via no seu horizonte a aposentadoria e com ela novas oportunidades. Voltou para a faculdade e fascinado cursou psicologia. No estágio obrigatório acompanhou pacientes em cuidados paliativos. Noutra atividade teve contato com crianças com Síndrome de Down. Assim, tanto com aqueles que se despediam da vida, quanto com os que nela iniciavam passou a observar a necessidade de valorizar as crenças individuais, a cultura e as tradições, a família, seus amores e humores.
Fez pós graduação em psicologia analítica e as religiões oriental e ocidental, cursou análise e interpretação de sonhos, fez o Caminho de Santiago de Compostela, passou a ler um livro atrás do outro convicto de que o conhecimento ajuda a descobrir o caminho individual, convicto da necessidade de interpretar as mensagens que emergem do inconsciente, de Deus, de guias espirituais, do destino e tantos mais.
No entanto, reconhece ter que realizar projetos impostos pela cultura e igualmente viver o conflito do homem do seu tempo, por não conseguir sequer saber o que é a para que veio, quando perguntado, responde apenas ser um homem em construção e saberá do necessário quando finalmente for chamado.
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