O João vive sozinho, mas é socialmente muito ativo. Tem muitos amigos com quem passa muito tempo e vê com frequência. No entanto, sente-se triste e decepcionado porque as suas amizades não parecem dar resposta às suas necessidades. Ele não sente que tenha uma conexão com os outros e um sentimento de satisfação. Apesar da sua vida social ocupada, sente-se sozinho e solitário.
O Luís vive sozinho e tem dois amigos íntimos que vê ocasionalmente. Quando se encontra com eles, diverte-se a conversar sobre determinados eventos e desportos, bem como pensamentos e sentimentos que cada um tem em relação às suas vidas. Quando não está no trabalho ou na companhia dos outros, o Luís não se sente sozinho porque passa o seu tempo envolvido em atividades que lhe interessam e que lhe dão energia.
Revê-se na história do João ou do Luís? Geralmente, o isolamento é uma condição resultante de um estado de solidão. Se gostaríamos de ter mais relacionamentos interpessoais do que os que realmente temos, podemos desenvolver sentimentos de solidão.
No entanto, não é o número de relações sociais que determina se nos sentimos sozinhos. Pelo contrário, são as reações emocionais e cognitivas que experienciamos quando nos conectamos aos outros que determinam o sentimento de solidão. Por exemplo, podemos sentir sinais de solidão quando reparamos que o seguinte está presente no quotidiano das relações sociais: desconfiança, conflito emocional ou falta de apoio social.
O João e o Luís vivem sozinhos e têm amigos; no entanto, aquele com uma vida social mais ativa sente-se solitário. Porquê? Estar sozinho pode trazer tristeza ou um sentimento de desesperança, ou pode trazer algo diferente, como crescimento espiritual e criativo, reintegrando a saúde e a energia. Os relacionamentos do João não parecem dar-lhe o que ele precisa ou deseja – um gozo ou um propósito – e, portanto, sente-se desprovido de conexão e, talvez isso o faça querer relacionamentos que sejam mais gratificantes. Por outro lado, o Luís parece beneficiar das interações que mantém com os amigos e também passa algum tempo sozinho. Além disso, parece não querer ter mais conexões interpessoais.
Não sabemos muito sobre o João e o Luís, quem eles são enquanto pessoas. No entanto, sabemos que as seguintes características podem estar associadas à solidão: timidez, baixa autoestima, isolamento social.
Sentir-se sozinho é normal; para alguns, pode ser muito assustador e destrutivo. No mínimo, dói. A solidão também pode tornar-se algo que traz consequências severas em termos físicos e mentais, tais como: isolamento social, depressão, abuso de substâncias, perturbações do sono e alteração do apetite, pensamentos e comportamentos auto-destrutivos e os sistemas imunitário e cardiovascular são prejudicados.
Por isso, o tratamento nestes casos é direcionado para o aumento das interações sociais da pessoa, dando-lhe ferramentas sociais e oportunidades para as colocar em prática. Em terapia, também pode ser útil modificar os pensamentos negativos que temos acerca dos outros e das relações sociais. O grau de solidão pode ser diminuído, ajudando-nos a perceber como a forma como vemos o mundo à nossa volta pode ser prejudicial para nós, perpetuando, assim, os nossos problemas.
Nós, enquanto seres humanos, por necessidade, evoluímos como seres sociais. A dependência e a cooperação entre nós aumentaram a nossa capacidade de sobreviver em circunstâncias ambientais adversas. Embora as ameaças de sobrevivência destas circunstâncias tenham diminuído no mundo de hoje, continuamos a ter a necessidade de nos ligarmos um aos outros.
Na nossa era digital avançada, uma das preocupações predominantes em relação à solidão é como nos tornamos menos cuidadosos com os outros, já que anteriormente, a nossa própria sobrevivência dependia dos relacionamentos de confiança e de entreajuda. Fundamentalmente, não importa o quão tecnologicamente sofisticados nos tornemos; a conexão emocional continua a ser uma parte essencial do ser humano. Precisamos uns dos outros – talvez não da forma que nos caracterizou evolutivamente, mas por uma necessidade que permanece essencial para a sobrevivência psicológica.
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