O que a cultura ancestral de uma tribo africana tem a ensinar para nós,
seres tão “desenvolvidos” e tecnológicos?
Existe uma tribo na África do Sul que possui um costume ancestral grandioso. Quando um integrante da tribo erra, se engana, prejudica alguém, é colocado no centro de uma roda na sua comunidade. Por dois dias, seus iguais o relembram tudo de bom que ele, o que cometeu o erro, já fez. É um ritual regenerativo aonde as pessoas da tribo dizem para ele Sawabona que significa: “eu respeito você, eu valorizo você, você é importante para mim”. E em resposta, o equivocado responde Shikoba, que significa “então, eu existo para ti.” Nesse lugar de reconhecimento e aceitação mútua, o perdão acontece seguido da transformação.
A cura e a possibilidade de mudança
Essa tribo acredita que todo ser humano é bom por natureza, mas por vezes, diante de alguns eventos externos ou pela suas crenças limitantes, perde a conexão com a sua essência e com o amor. Essa prática vem na contramão de tudo o que vem sendo praticado por aqui. Serve para relembrar a pessoa de quem realmente é através do acolhimento e da empatia. Dentro dessa filosofia, enxergam que erros, enganos, crueldades são cometidos não para machucar o outro, mas como um pedido de socorro, um pedido urgente de ajuda para esse retorno à essência e ao amor.
Veja que a intenção do ritual não é julgar ou condenar, mas potencializar a mágica da cura e a possibilidade da mudança. Eu considero essa prática um dos mais bonitos atos de perdão e solidariedade porque enfatiza o que o ser humano precisa desde o primeiro sopro de vida: pertencimento, acolhimento, amor, aceitação, se sentir visto para permanecer no caminho da verdade e da evolução.
Todos nós desejamos nos sentir especiais, amados, e nessa busca insana de atenção e aprovação, muitas vezes erramos no caminho. Cada um de nós enxerga o mundo através de suas lentes individuais, pelas suas crenças que se tornam verdades absolutas, que muitas vezes levam a cegueira e a intolerância à pontos-de vistas divergentes. Nesse caminho sem empatia e abertura para o novo, conflitos, brigas, guerras surgem e muito sofrimento é sentido.
Mesmo assim, a força maravilhosa que nos criou nos fez com um plano B. Somos capazes de reconhecer nossos erros e mudar. Existe sempre a possibilidade do arrependimento, da responsabilidade, do perdão. Antes do mundo das redes sociais, quem nos dizia que estávamos errados eram nossos conhecidos, pais, amigos, professores… O “cancelamento” do afeto era temporário e praticado com mais cuidado e respeito.
Shikoba e Sawabona
A filosofia dessa tribo africana nos convida a refletir sobre como escolhemos comunicar nossa raiva, frustrações e decepções, mesmo diante de comportamentos desumanos como racismo, homofobia e preconceito social. Somos seres humanos em construção. Vamos errar mas temos a capacidade de corrigir. Temos consciência, que nos dá a chance de perceber quando erramos e reparar.
Fica o convite para refletir sobre a efetividade da cultura do cancelamento e sobre a ideia de que a busca de nossos maiores anseios (amor e pertencimento) pode nos levar a novas formas de ver e agir. Acredite: temos a possibilidade de construir um mundo melhor. E esse mundo inclui todos e tudo que nele existem. Então, mais uma vez, Shikoba e Sawabona, para você, para mim, para eles, para todos nós.
Baseado no texto de Ana Raia para o site vidasimples.co