Espera aí, malemal me formei e já estou quase aposentado? Mal me casei e meus filhos já podem ter filhos?
Quando foi que meu cabelo branqueou? E essa dor nas costas que agora atende pelo nome de “vim para ficar”?
O que foi que eu perdi? Quem acelerou o relógio do tempo? Terão sido os infindáveis plantões? Ou talvez as cirurgias complicadas que nos fazem envelhecer instantaneamente?
Não aceito! Chama o Var (para quem não acompanha futebol, é a maneira de revisar um lance duvidoso, usando recursos da tecnologia do replay, por juízes e auxiliares, que podem modificar a decisão do árbitro, ufa!). Quero revisão desse lance do envelhecimento. Há controvérsias.
Um dia era estudante e no outro estou com vaga preferencial? Não aceito de novo! Posso ficar na fila “normal”. Esse termo está na própria máquina de senha. Não quero vaga preferencial nenhuma. Sessentinha, mas com este corpinho de 59. O tempo pode ter passado, mas não meu espírito juvenil. Meus sonhos. Há muito por fazer, se bem que já escrevi um livro, plantei uma árvore e já tive filhos. Alguém precisa reinventar essa lista.
Agora que está ficando bom. Não chego ao exagero da “melhor idade”, mas também não estou entregue às traças. Aqui não violão.
A medicina evoluiu muito para me dar qualidade de vida. Tem remédio pra tudo. Tenho que cuidar da “caixa preta”. É al que mora o perigo. Exercitar sempre. Mantê-la ativa. Viva. Não me abandonar. Não desistir de mim mesmo e saber que o jogo só acaba quando termina, como diria aquele filósofo contemporâneo. Muitos diriam que é o começo do fim. Pois eu acho que é o fim do começo. Se a genética ajudar e eu der uma forcinha vou até os 90. Assim sendo, ainda tenho mais 50 por cento do que já vivi. Mas, considerando todos os avanços que estão por vir, dá pra chegar aos 120. Oba! Mais uma vida inteira pela frente, só que agora com a experiência adquirida. Quem disse que Deus não dá asas à cobra?
Edmilson Fabbri em Novembro de 2020 Para Revista Ideias