TRISTEZA E DEPRESSÃO

Existe um fato que tem me chamado muito a atenção, e que trago para esta reflexão do mês, qual seja: A quantidade de pessoas que faz uso de antidepressivos atualmente. Isto nos remete a uma inevitável conclusão: Ou as pessoas estão mais depressivas ou estamos medicando um ente fisiológico chamado tristeza.

Tristeza tal qual alegria são estados fisiológicos e não patológicos. Já a persistência da tristeza além de períodos compreendidos como normais face a acontecimentos nefastos na vida das pessoas, e que traga prejuízo à qualidade de vida dessas pessoas, por perda do interesse por ações comuns do dia a dia, seria uma característica do ente nosológico chamado depressão. À luz desse esclarecimento importante para suas diferenciações, indago: Não estaria havendo uma supervalorização da tristeza, alçando-a à condição de depressão? Emendo essa pergunta à outra para instigar ainda mais nosso raciocínio.

O mundo como um todo, não está mais triste? O que lhe parece caro leitor?

Creio que a sua conclusão coincida com a minha, ou chegarei a outra conclusão, a de que vivemos em universos paralelos!!!! Sim, o mundo está mais triste, mas, muito mais triste. E vejo por mim mesmo. Sou um sujeito extrovertido, positivo e com um bom espírito de humor. Não raras vezes, me pego mais calado, preocupado sem saber aparentemente bem os porquês. Isto porque, nem sempre aquela condição emocional é fruto daquele momento exato. Daí a importância de não guardarmos sentimentos negativos, ficando ressentidos, pois estaremos sempre com esse veneno dentro de nós.

A globalização nos trouxe a uma aproximação sem precedentes com toda a aldeia global. Esse fato traz consigo duas faces, pois ao mesmo tempo que nos conectamos com todos os eventos bons, temos também “full time” tragédias naturais, guerras, além das crises políticas do mundo todo. Lembram-se a pouco tempo todo o problema vivido pela Grécia na sua base política com repercussões econômicas, sendo nos mostrado um país à beira da falência? Tínhamos lembranças maravilhosas de suas ilhas, o colorido de suas casas com flores por todas as ruas, um povo alegre que quebra pratos nas festas para externar essa alegria. Isso sendo mostrado diariamente a você nos noticiários de todas as mídias vai te trazendo uma carga, que sem se perceber vai mudando seu humor, mesmo não estando diretamente envolvido com essa questão. Há um senso comum de compaixão e solidariedade que a todos nós toca.

Estávamos juntos caçando Bin Laden e Sadan Hussein, pois nosso espírito de justiça transcende nossas barreiras geográficas. Ficamos muito contentes com a eleição do presidente Obama, muito mais que nas eleições de Busch ou Reagan, e por quê? Porque compartilhamos e nos alegramos com a ascensão de pessoas menos favorecidas, que venceram preconceitos raciais, sociais ou de qualquer outra razão. O 11 de setembro nos atingiu também, somos solidários e ficamos comovidos com o sofrimento gerado por aquele atentado, e precisamente naquele momento ficamos muito tristes e preocupados.

Percebem a relação direta desses fatos com muitas das vezes nosso aumento de tristeza e quietude, sem que nos apercebamos diretamente dessa relação? Esse processo de globalização nos tornou vizinhos dos gregos e de toda a humanidade. A matança consentida das baleias no Japão ou de elefantes na África parece estar acontecendo aqui no nosso quintal. Todas essas informações, todas essas imagens, ficam guardadas em nosso subconsciente como fontes de preocupação, mesmo estando a ocorrer a milhares de quilômetros de onde estamos, nos atingem diretamente via imagens chocantes.

Fora isso, temos nossa própria produção de tragédia interna. Não basta noticiar um acidente entre um carro e uma moto, tem-se que mostrar o corpo ao lado, ou a dificuldade de resgate de corpos mutilados em acidente aéreos. Não basta informar sobre o sequestro de uma criança, tem-se que entrevistar os pais em estado de choque, transfigurados pela tristeza. Maria Antonieta, a rainha louca, dizia, pão e circo para o povo. Se um acidente não tem mortos não serve. Se um atentado não tem tragédia não interessa.

Então, afora problemas pessoais específicos pelos quais todos passamos na vida, e que possam contribuir para um estado depressivo que necessite de um tratamento especializado, com medicação devida, fora isso a grande maioria das pessoas está triste. Triste porque não se afasta dos noticiários, desde a primeira hora que acorda, até o momento que vai dormir. Seu subconsciente repleto de preocupações com seus problemas e os do mundo todo. Tenta dormir e não consegue e não sabe porquê. Daí vem remédio para dormir, remédio para acordar e outro para manter-se feliz!!!

Durma com um barulho desses!!!!

Dr. Edmilson Mario Fabbri
Revista Ciência e Fé – Ano 23 – nº 270
Novembro de 2022
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